Em sua regra nº 2, o autor das “12 regras para a vida” – Jordan B. Peterson – reflete sobre o porquê pessoas doentes não cuidam de sua recuperação como deveriam. Não tomam os medicamentos conforme prescritos pelos profissionais da saúde e, em casos mais extremos, mesmo após cirurgias e transplantes de órgãos – em processos muito dolorosos – parecem não fazer questão de contribuir para sua própria sobrevivência.
Crises financeiras, problemas pessoais, desemprego, infelicidade, somadas a uma doença grave podem culminar na perda de um sentido lógico na vida o que, por sua vez, leva as pessoas nessa situação a não se cuidar da forma que deveriam. Contudo, o autor apresenta para efeito comparativo, se a ocasião envolvesse o cãozinho de estimação dessa mesma pessoa – Como seria o comportamento dela?
Chega-se a uma conclusão de que as pessoas se importam mais com o tratamento de seu animal de estimação do que com seu próprio tratamento. Não importa se as palavras pareçam inacreditáveis – muitas vezes as ações da pessoa provam isso. Os cuidados com a recuperação do animal são costumeiramente maiores do que os cuidados consigo mesmo. O autor provoca escrevendo que sob esse conjunto de fatos pode se depreender que as pessoas amam mais seus animais de estimação do que a si mesmas.
Peterson inicia sua longa dissertação sobre os motivos dessa postura autodestruidora, falando sobre a mudança de visão da humanidade a partir do advento da ciência objetiva, em detrimento de uma visão mais subjetiva do mundo – das nossas sensações, dos nossos sentimentos.
Ele fala sobre o sentimento de dor, que é algo subjetivo, mas quem será capaz de dizer que ela não é real, que ela não existe? Peterson comenta que esses sentimentos não são facilmente explicáveis pela ciência objetiva, mas são muito melhor compreendidos por romances, histórias, mitos.
PETERSON, Jordan B. 2018, p. 33, 12 Regras para a vida
“As verdades científicas vieram à tona apenas 500 anos atrás, com os trabalhos de Francis Bacon, René Descartes e Isaac Newton. Qualquer que fosse a visão de mundo adotada por nossos ancestrais antes disso não fora dada pelas lentes da ciência (…) Uma vez que somos tão científicos agora – e tão determinantemente materialistas – fica muito difícil para nós até mesmo entender que outras visões podem existir e, de fato, existem. Mas aqueles que existiram durante a época distante na qual os épicos fundamentais da nossa cultura emergiram estavam muito mais preocupados com as ações que ditavam a sobrevivência (e com a interpretação do mundo de forma comensurada com esse objetivo) do que com qualquer outra coisa que se aproximasse do que agora entendemos como a verdade objetiva. Antes do nascimento da visão científica do mundo, a realidade era interpretada de maneira diferente. O Ser era compreendido como um lugar de ação, não de coisas. Era compreendido como algo mais semelhante a uma história ou drama.”
O domínio não da matéria, mas do que importa
Neste tópico, o autor coloca que os elementos primordiais do domínio da vida (“do que importa”) são a ordem e o caos, que definem o conhecido e o desconhecido. O caos seria o domínio da ignorância, é o inexplorado – nas palavras do autor – “o lugar onde você vai parar quando tudo dá errado” enquanto a ordem é o reconfortante, o planejado, o calendário, o relógio – é quando “o comportamento do mundo se iguala as nossas expectativas e nossos desejos”.
A importância da ordem se mostra grandiosa, pois é lá que conseguimos pensar no longo prazo. No entanto, o caos é liberdade, em certa medida, é também tentar o novo. Existe um equilíbrio possível entre esses dois elementos – e é lá que devemos estar. Importante parêntese, nesta altura o autor faz a analogia do caos com a história de Pinóquio e suas provações para se tornar um ser humano, além de diversos exemplos de situações onde o caos surge em nossas vidas – impossível não se relacionar com várias delas.
Diferente do mundo material (mundo dos objetos), na realidade da ordem e do caos, tais elementos não estão estáticos, eles são vivos. E Peterson disserta que sempre os “elementos mais significativos do nosso ambiente de origem eram as personalidades, e não coisas, objetos ou situações”. Logo, o mundo social habitado por pessoas e cheio de personalidades é o nosso habitat natural há milênios, há muito mais tempo do que o mundo racional. De modo que categorias como o dual masculino e feminino são a base para concepções até mesmo dos objetos inanimados e das criações de mitos e religiões.
PETERSON, Jordan B. 2018, p. 43, 12 Regras para a vida
“Todos temos uma sensação palpável do caos espreitando em tudo o que nos é familiar. É por isso que entendemos histórias estranhas e surreais como Pinóquio, A Bela Adormecida, O Rei Leão, A Pequena Sereia e a A Bela e a Fera, com seus cenários eternos de conhecido e desconhecido, mundo e submundo. Já estivemos nesses dois lugares muitas vezes: às vezes por casualidade, às vezes por escolha.”
Peterson diz que compreender essa lógica faz com que o conhecimento sobre seu corpo e alma se alinhe com o do seu intelecto. Algumas coisas estão sob o nosso controle e outras, não. Essa realidade é comum a todos os seres humanos e por isso compartilhamos lendas, mitos, sentimentos, emoções e a riqueza do que é viver.

Desenvolvimento Pessoal para Hoje! – Equilíbrio entre a ordem e o caos
PETERSON, Jordan B. 2018, p. 44, 12 Regras para a vida
“Dominar essa dualidade fundamental é ser equilibrado: ter um pé firmemente plantado na ordem e na segurança e outro no caos, na possibilidade, no crescimento, na aventura. Quando a vida repentinamente se revela intensa, arrebatadora e significativa; quando o tempo passa e você está tão absorto no que está fazendo que sequer percebe – é nesse exato momento que você está localizado bem na fronteira entre a ordem e o caos.”
O autor faz então a análise do mito fundador do cristianismo, falando sobre a serpente no Jardim do Éden – representação do caos inserido na ordem, que é o paraíso. História que corrobora para a ideia de que até mesmo o local mais seguro pode estar vulnerável ao caos repentino.
PETERSON, Jordan B. 2018, p. 47, 12 Regras para a vida
“pior de todas as serpentes possíveis é a eterna inclinação humana para o mal. A pior de todas as serpente possíveis é psicológica, espiritual, pessoal e interna.”
Nesse contexto, o autor passa a defender o pensamento de que como é impossível nos vermos livres no mal, das situações caóticas, o melhor a se fazer é tornar aptos os seres que estão sob os seus cuidados do que protegê-los. Jordan B. Peterson faz então a pergunta aos que são pais: “vocês querem fazer com que seus filhos estejam seguros ou que sejam fortes?”
Ainda refletindo sobre o mito de Adão e Eva no Paraíso, o escritor fala sobre, após comerem o “fruto proibido”, descobrirem sua autoconsciência e de imediato perceberem-se nus e envergonhados por isso – diante dessa fragilidade. Nota-se que o ser humano passa a conceber, segundo o autor, que a beleza envergonha a feiura, que a força envergonha a fraqueza e que a morte envergonha a vida. O que é o Ideal envergonha a nós todos.
Ainda sim, não devemos abrir mão dos nossos padrões de perfeição, por mais inalcançáveis que sejam, pois é o preço que temos de pagar por ter a capacidade de almejar, realizar e ambicionar.
No fim da segunda “regra para a vida” Peterson faz a ligação entre a pergunta inicial “porque as pessoas amam mais seus animais de estimação do que a si mesmas?” e o mito do Jardim do Éden, e justifica explicando que nós seres humanos julgamos que não merecemos cuidados por sermos criaturas “indefesas, feias, envergonhadas, assustadas, vem valor, covardes, rancorosas…” Conforme nos mostra a história do Paraíso.
Esse descaso representa a nossa reprovação da humanidade. Nós conhecemos o quanto podemos ser maus como espécie. E conhecemos, melhor ainda, quanto nós mesmos podemos ser maus. A capacidade racional e ordenada de infligir dor propositalmente em outro humano – não é algo da natureza, mas especialmente da espécie humana. “Apenas o homem infligirá o sofrimento para fins de sofrimento.” Essa é a definição do mal.
De modo que a culpa existencial permeia a experiência humana. Isso explica o doente não ficar completamente comprometido com o próprio cuidado. Para que consigamos cuidar de nós mesmos como cuidamos de outros temos de sentir orgulho da nossa existência. Viver de forma a acreditar que merecemos os melhores cuidados.
PETERSON, Jordan B. 2018, p. 62, 12 Regras para a vida
“Há muitas maneiras como as coisas podem dar errado ou deixar de funcionar completamente, e são sempre as pessoas machucadas que as mantêm funcionando. Elas merecem uma admiração genuína e profunda por isso. É um milagre contínuo de coragem e perseverança“
A compaixão com os seres humanos deve ser o combustível para diminuir esse autodesprezo consciente. Nós merecemos respeito, nossa história humana merece respeito. De forma que temos obrigação moral de cuidarmos de nós mesmos. Peterson cita Nietzsche para influenciar nossa busca por sentido e por moral elevada: “Aquele cuja vida tem um porquê, pode suportar quase todos os comos.”
Então, “Cuide de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade“
Se quiser ler as outras resenhas sobre os demais capítulos do livro:
12 Regras para a vida: Um antídoto para o caos (Jordan B. Peterson)
Resenha : Um Antídoto para o Caos (clique aqui)
Prefácio : Norman Doidge 12 Regras para a Vida (clique aqui)
Introdução : 12 Regras para a Vida (clique aqui)
Regra nº 1 : Costas eretas, ombros para trás (clique aqui)
Regra nº 2: Cuide de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade (clique aqui)

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12 Regras Para a Vida. Um Antídoto Para o Caos (clique aqui!)
Boa Leitura!